As lesões musculares estão entre as causas mais frequentes de incapacidade física na prática esportiva – correspondem, por exemplo, a 31% de todas as lesões no futebol. Acompanhe neste post algumas informações e orientações para evitar seu aparecimento e acelerar sua recuperação.
Tipos de lesão
– Estiramento: são lesões indiretas, quando ocorre o alongamento das fibras além do limite fisiológico. Os esportes com rápida aceleração e desaceleração são os mais acometidos.
– Contusão: quando existe um trauma direto ao ventre da musculatura, sendo mais grave quando o músculo não está contraído. A musculatura do quadríceps femoral (anterior da coxa) e os gastrocnêmios (panturrilhas) são os mais acometidos.
– Dor muscular tardia: comum quando de inicia um esporte após um período de inatividade; aparece após algumas horas e se torna mais intensa em 24-48h. Tem relação com sobrecarga mecânica, degradação do colágeno, microrrupturas e processo inflamatório decorrentes da atividade.
– Cãibras: contrações súbitas e involuntárias da musculatura, causando dor. Apresentam múltiplas causas, com destaque para a desidratação e distúrbios de eletrólitos.
– Laceração: raro em atletas, acontece após um trauma direto penetrante, “cortando” as fibras.
Características das lesões por estiramento
– Ocorrem com mais frequência na contração muscular excêntrica ( contra o sentido do movimento), em grupamentos musculares com predomínio de fibras tipo II (fibras de contração rápida).
– Normalmente envolvem músculos que englobam mais de uma articulação – isquiotibiais (posterior de coxa), quadríceps femoral (anterior de coxa), tríceps sural (panturrilha).
– O local mais acometido normalmente é a junção entre o músculo e o tendão (miotendínea).
Fatores de risco para lesão:
– Deficiência de flexibilidade.
– Aquecimento inadequado antes da atividade física.
– Desequilibrio de forças (musculatura agonista x antagonista).
– Lesão muscular prévia.
– Distúrbios nutricionais e hormonais.
– Infecções.
– Erro de treinamento.
Diagnóstico
O diagnóstico das lesões musculares é feito com base na história do trauma associado ao exame físico, conseguindo-se estimar a quantidade de fibras rompidas e a gravidade do quadro. A perda da capacidade de contração do músculo, hematomas extensos e gap ( “buraco”) palpável são indicativos de lesões mais sérias.
Para complementar a avaliação, pode-se lançar mão de exames de imagem como Ultrassonografia e Ressonância Magnética, onde avalia-se diretamente a lesão e seu processo de cicatrização. A radiografia também pode ser útil, quando se tem a suspeita de um arrancamento ósseo.
Categorizamos as lesões musculares de acordo com a classificação de O´Donogue, que divide esta condição em 3 subtipos:
- Grau I – Estiramentos e Contusões Leves
- Lesões de apenas algumas fibras musculares, comprometendo menos de 5% da seccção transversa do músculo. Não existe perda de força ou função, e há pequena resposta inflamatória.
- Grau II – Moderadas
- Lesão entre 5% e 50% da secção transversa do músculo. Apresenta edema, dor localizada, hemorragia leve ou moderada, defeito muscular palpável com pequena formação de hematoma e diminuição da capacidade funcional. Na fase aguda a limitação funcional é moderada, e tem resolução em médio prazo. Apesar do bom prognóstico, pode evoluir com sequelas.
- Grau III – Graves
- Lesão comprometendo mais 50% do músculo até a ruptura completa, acompanhada de perda de função, presença de defeitos palpáveis (retração muscular) e edema/hematoma importantes. A recuperação é lenta e o prognóstico reservado, frequentemente evoluindo com sequelas e deformidades.
Tratamento na fase aguda
Os objetivos do tratamento são controlar a dor e inflamação, auxiliar a regeneração da musculatura mantendo flexibilidade e força, minimizar o risco de novas lesões e permitir o adequado retorno ao esporte.
Na fase aguda, utilizam-se medicações, medidas locais (gelo, imobilização por curto período, compressão local) e repouso. Dentre os medicamentos usados, destacam-se os analgésicos, anti-inflamatórios não-esteroides e miorrelaxantes, tendo como objetivo o controle da dor, da inflamação e do espasmo do tecido muscular.
Os princípios do tratamento das lesões musculares na fase aguda seguem o método PRICE (proteção, repouso, gelo, compressão local e elevação do membro acometido). O uso de imobilização e muletas vai ser determinado pelo grau da lesão, não sendo necessários em todos os casos. Sempre que possível permite-se a mobilização do membro acometido, preservando a amplitude do movimento.
A crioterapia (bolsas de gelo) na fase aguda é indicada para controlar o processo inflamatório, diminuir a dor e reduzir o edema e o eventual sangramento. Utiliza-se o gelo em bolsas ou dispositivos específicos, realizando a compressão do local durante 20 a 30 minutos, com frequência de 2 a 3 horas, durante os primeiros dias. A elevação do membro acometido é indicada para estimular a circulação e permitir uma melhor drenagem do edema e hematoma.
Reabilitação com Fisioterapia
Frequentemente as lesões musculares mais significativas irão necessitar de um trabalho de reabilitação fisioterápico para sua completa recuperação. No fase inicial, algumas técnicas e modalidades terapêuticas são utilizadas nos protocolos de tratamento. Alguns exemplos são a estimulação elétrica (TENS, correntes interferenciais), crioterapia, ultrassom pulsado/contínuo e laser – todos eles buscam auxiliar na reparação cicatricial e controlar a dor, gerando um aumento do metabolismo local, redução da inflamação e do espasmo muscular e reabsorção do hematoma.
A flexibilidade pode ser iniciada de dois a sete dias após a lesão, realizada de forma suave a moderada de acordo com a resistência da dor. A seguir inicia-se a fase de fortalecimento muscular, tão logo o paciente apresente melhora da dor com leve resistência. Os exercícios devem ser iniciados com baixa intensidade, aumentando-se a intensidade conforme a tolerância do indivíduo. Num primeiro momento são introduzidos os exercícios concêntricos isométricos, progredindo para os isotônicos e finalmente os excêntricos, os quais são fundamentais devido a algumas vantagens biomecânicas e significativo ganho de força.
Tratamento cirúrgico
O tratamento cirúrgico é raramente indicado, ficando reservado para as lesões completas por avulsão, lesões de grande impotência funcional e dissociação importante entre os dois bordos da lesão ou nas avulsões ósseas, além daquelas com presença de extensos hematomas.
Retorno ao esporte e recorrência
O retorno ao esporte deve ocorrer após melhora completa da dor, quando se atingir força, flexibilidade e amplitude de movimento semelhante ao membro não lesado. O dinamômetro isocinético pode ser utilizado na avaliação da força após o fim do tratamento, buscando-se níveis semelhantes aos valores prévios à lesão ou ao membro contralateral (acima de 80%).
A ocorrência de novas lesões é frequente, e possui diversas causas. A principal delas é a provável alteração da biomecânica normal, onde o tecido formado após a cicatrização tem características diferentes do tecido muscular original (tecido fibroso sem características contráteis associadas a fibras musculares regeneradas com comando neuromotor anormal). O diagnóstico precoce e o trabalho de reabilitação adequado melhoram a qualidade da cicatrização e diminuem as taxas de recorrência.
As lesões musculares são foco contínuo de novos estudos, e diversas técnicas e métodos estão em desenvolvimento. Dentre eles, destacam-se os fatores de crescimento derivados de plaquetas, a cultura de células-tronco autólogas, as drogas inibidoras da fibrose, a bioengenharia e a estimulação neuromuscular.
As lesões musculares parecem simples e são frequentemente negligenciadas, porém seu diagnóstico e tratamento adequados são fundamentais para evitar sequelas e manter um bom rendimento esportivo! Qualquer dúvida, estamos a disposição!
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